Orquestra de Câmara Portuguesa
Jan Wierzba, direção
Marina Pacheco, soprano
Lonely Child (1980), Claude Vivier
intervalo
Sinfonia No. 38 em Ré Maior “Praga”, K. 504, W. A. Mozart
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Temporada comemorativa dos 10 anos da OCP. E se a coragem tivesse um som?
Em 2017 a Orquestra de Câmara Portuguesa (OCP) celebra uma década de vida.
Do nascimento de uma orquestra de câmara, assistimos à vida que germinou através dos seus diversos projetos musicais e sociais: a Jovem Orquestra Portuguesa (JOP – que vai no quarto ano consecutivo de internacionalização); Notas de Contacto – a OCPsolidária na CerciOeiras (uma orquestra de câmara especial); às Sementes OCP, no Centro Social Bairro 6 de Maio, passando pela APAC de Barcelos e o lançamento da Orquestra Académica da Universidade de Lisboa, a projetos performativos com mais de uma dezena de bandas filarmónicas do centro e norte de Portugal.
Da urgência da sua criação, de moto próprio e afirmação contínua; passando pela permanente ação de angariação de apoios junto da sociedade civil, à perseverança de marcar a diferença pelo fulgor das suas interpretações, a OCP celebra a sua primeira década de existência em 2017, sob o lema: O “Som da Coragem”.
Sabendo que o simples ato de fazer Música é um acto de coragem, lançamos ao nosso público o seguinte
– como soa a coragem de criar uma orquestra, em Portugal?
– como soa a coragem da criação dos compositores?
– como soa a coragem dos músicos em palco?
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Neste concerto a Orquestra de Câmara Portuguesa, dirigida pelo maestro Jan Wierzba, traz-nos a canção orquestra Lonely Child de Claude Vivier, e uma das mais conhecidas Sinfonias de Mozart, a Sinfonia no. 38, ou Sinfonia Praga.
Lonely Child é uma longa canção de solidão, depurada de recursos harmónicos ou contrapontísticos. Claude Vivier queria trabalhar toda a expressão de uma única linha homofónica. O importante nesta peça é o timbre e a cor. Para esta obra a Orquestra de Câmara Portuguesa convidou a soprano Marina Pacheco, que terá assim a difícil missão de se apropriar desta linha e ir ao encontro do que é pedido por Vivier, no sentido de se fundir com o timbre e a cor da orquestra, tirando partido de toda a sua capacidade expressiva.
A segunda obra deste concerto é a Sinfonia n.º 38 de Mozart, ou Sinfonia Praga. No final de 1786, Mozart concluiu duas peças magistrais – o Concerto para piano n.º 25 e a Sinfonia n.º 38 –, obras cuja densidade do pensamento musical e o pleno domínio dos recursos composicionais sinalizam o derradeiro período criativo do compositor. Ambas estavam destinadas ao público de Praga e apresentam a particularidade de não usar clarinetes (instrumento muito querido de Mozart, mas com os quais, ao que parece, ele não contaria na orquestra de Praga). O consagrado rótulo de Sinfonia de Praga presta-se, portanto, muito bem à obra, homenageando a cidade tão amada pelo compositor e onde a sua música era acolhida com entusiasmo. O sucesso triunfal de As bodas de Fígaro no teatro local contrastara com a fria recepção da estreia vienense. Confiante no caloroso público checo, Mozart não precisou de fazer concessões: a composição da nova Sinfonia marca um nítido salto qualitativo na sua obra sinfónica. E, mais uma vez, Praga mostrou apreciar as inovações, encomendando-lhe uma nova ópera. De facto, se estivermos atentos, há vários episódios no Don Giovanni que lembram trechos desta Sinfonia de Praga.